Dizer que esta é uma doença desmielinizante primária significa que o mecanismo que lhe está subjacente é a própria desmielinização, ou seja, ela não é consequência de qualquer outro fenómeno (como acontece com a isquémia, num acidente vascular cerebral, por exemplo). Além disso, a EM é uma doença do SNC porque envolve o cérebro, a medula espinhal, o tronco cerebral e o nervo óptico.
Ter natureza imunomediada significa que, em determinado momento, o sistema imunitário engana-se e reconhece como estranha a estrutura da mielina, atacando-a. “A partir desse momento, existem condições para que mais células se possam equivocar, dando início a um processo que se desenrola por fases ou surtos”, explica Filipe Palavra.
SINTOMAS DE ALERTA MAIS COMUNS
Segundo Filipe Palavra, a EM pode ter manifestações muito diversas, mas alguns sintomas são mais frequentes e devem servir de alerta para a doença, sobretudo se forem novos, com mais de 24 horas de duração e afetarem pessoas jovens:
Nevrite óptica
Inflamação do nervo óptico, que origina dificuldades de visão, dor ao movimentar os olhos e/ou dificuldade na distinção das cores.
Mielite
Inflamação da medula espinhal, que pode levar a dificuldades na movimentação de braços, pernas ou ambos, bem como alterações da sensibilidade (formigueiros ou outras sensações desagradáveis) ou disfunções esfincterianas (problemas no funcionamento da bexiga e/ou do intestino).
Sintomas relacionados com o tronco cerebral
Desequilíbrio, dificuldade em caminhar, vertigem, alterações nos movimentos dos olhos, visão dupla, modificações na sensibilidade ou na simetria da face são também sintomas comuns.
Tratamento e prevenção
À luz do conhecimento atual, a EM é uma doença crónica ainda sem cura. No entanto, “existem hoje vários medicamentos que permitem ‘silenciar’ as manifestações da doença durante um longo período de tempo”, destaca Filipe Palavra. Os tratamentos disponíveis permitem modificar e retardar a evolução natural da EM, estando já em investigação fármacos para reverter os danos provocados a nível neurológico.
Segundo Filipe Palavra, os medicamentos atualmente disponíveis “permitem esbater a diferença de alguns anos na esperança média de vida dos doentes com EM, relativamente à população geral”. Embora cada caso tenha uma evolução própria, o tratamento visa “proporcionar ao doente uma vida normal, com manutenção do emprego e das atividades sociais, constituição de família, etc.”.
Uma dúvida habitual está relacionada com a hereditariedade da EM. De acordo com Filipe Palavra, o risco de uma pessoa desenvolver esta doença em Portugal sobe de 0,3%, na população geral, para 1,5 a 3% se um dos pais a tiver. Ainda assim, o risco genético máximo conhecido ronda os 30% (em gémeos monozigóticos), o que deixa 70% dos determinantes de risco para fatores ambientais, de variada natureza.
E haverá alguma forma de prevenir a EM? O neurologista responde que, se a pessoa tiver as alterações genéticas que aumentam a suscetibilidade à doença, o risco estará sempre presente. No entanto, são já conhecidos alguns fatores de risco controláveis. Por exemplo, a obesidade quadruplica a probabilidade de uma adolescente ter EM no futuro. Por isso, para prevenir esta e outras doenças, Filipe Palavra deixa alguns conselhos que, não sendo novos, continua a ser necessário lembrar: “Não consumir bebidas alcoólicas em excesso, não fumar, praticar exercício físico e manter uma alimentação saudável.”